Londres, Outubro de 1886

Sr. Marback,

É com muito pesar que venho, através desta, informar-te de tamanha desventura. Primeiramente, devo apresentar-me. Sou Katherine Mirren, enfermeira e companheira de tua amável tia, Lílian Marback.
Deves estar se perguntando por que enfermeira, creio eu. Pois bem, tua tia sofreu forte infecção no final do ano passado. Tudo indicava que não passaria disso, uma infecção renal. Mas outros problemas foram aparecendo. Perdeu o movimento das pernas, e, com pouco tempo, também a visão. Foi quando comecei a trabalhar para ela.
Como seu estado era grave e irreversível, optou por morar em Moure, um pequeno condado de Hampshire. E foi lá que passou os seus últimos dias.
Ouvi muito a teu respeito. Sempre se desmanchava em elogios pelo sobrinho que criara como a um filho. Falou-me sobre teus inúmeros talentos artísticos e da imensa saudade que deixava a tua presença.
Ela veio a falecer no mês passado. Pediu-me que viesse a Londres para resolver algumas pendências que confiou somente a minha pessoa. E foi nesta ocasião que, por acaso ou destino, encontrei a tua epístola.
Reconheci, de súbito, tua caligrafia, pois li tuas cartas inúmeras vezes em seu leito. Tenhas a certeza de que elas a confortaram, e, de certo modo, tornaram sua morte menos dolorosa.
Realmente é uma lástima não estar entre nós. Tão alegre quanto parecia ter sido, teria ficado radiante com o convite.
Sinto muito não poder me delongar. Sei que gostarias de ler mais algumas palavras sobre tua querida tia, mas sua partida foi para mim também muito dolorosa. E ainda tenho muitos afazeres.
Meus sentimentos. E que Deus a Tenha!

Atenciosamente,
Katherine.

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